A adoção do BIM (Building Information Modeling) já é uma realidade no setor de infraestrutura, mas a forma como ele é aplicado varia muito entre empresas, órgãos públicos e até por tipo e porte dos projetos.
Essa diferença está diretamente relacionada ao nível de maturidade BIM, que define a capacidade de cada organização em integrar processos, políticas, pessoas e tecnologias em torno da metodologia. Este artigo explora os níveis de maturidade BIM na infraestrutura, destacando seus benefícios, desafios e caminhos para avançar rumo a modelos colaborativos e integrados. Também foi elencado o papel de tecnologias como InfraWorks, Civil 3D, Revit, ArcGIS e CDEs para acelerar essa evolução e garantir projetos mais eficientes, sustentáveis e conectados.
Sabemos que a implementação da metodologia BIM não acontece de forma instantânea e simplificada, pois ela exige uma jornada de transformação que passa pela mudança cultural e pela revisão de processos — muitos ainda remanescentes da era analógica. A implementação BIM exige ainda o desenvolvimento de trilhas de capacitação dedicadas para as equipes envolvidas, além da adoção gradual de tecnologias digitais.
Acontece que no setor de infraestrutura é onde encontram-se as obras de capital com alto investimento, impacto na população e complexidade em sua execução e processo de manutenção. Dentre esses grandes empreendimentos destacam-se a construção de rodovias, ferrovias, obras de saneamento, energia e mobilidade urbana, o que transforma a jornada BIM ainda mais desafiadora, não só pela própria complexidade dos empreendimentos, mas também pela grande quantidade de stakeholders, e a desafiadora necessidade de integrar, compartilhar e rastrear grandes volumes de dados durante todo o ciclo de vida do empreendimento.
E nesse contexto temos o conceito de maturidade BIM, um indicador que mede não apenas o uso da tecnologia, mas o quanto a metodologia está enraizada na cultura da organização e no processo de conceber e manter os empreendimentos.
O Conceito da Maturidade BIM
A maturidade BIM pode ser entendida como a escala evolutiva na adoção e prática da metodologia, que vai desde o uso mais básico da modelagem, passando pela integração em um ambiente colaborativo e multidisciplinar, mas também alcançando a integração plena com outras plataformas e sistemas para alcançar usos mais estratégicos, econômicos e sustentáveis.
Nível 0 – CAD 2D tradicional
- Processos isolados;
- Desenhos em 2D;
- Pouca ou nenhuma colaboração;
- Ausência de dados estruturados.
Nível 1 – Modelagem e processos parciais
- Introdução de modelos 3D, sem integração efetiva entre disciplinas;
- Repositório de projeto com uso do CDE;
- Colaboração limitada e processos fragmentados.
Nível 2 – Colaboração com modelo federado
- Uso de modelos BIM combinados a um modelo federado;
- Uso do CDE para a coordenação eficiente dos projetos;
- Protocolos como IFC, COBie e adoção da ISO 19650 garantem a redução de retrabalhos.
Nível 3 – Integração com demais sistemas
- Colaboração em modelo dentro de um Ambiente Comum de Dados (CDE);
- Automação de processos;
- Integração com plataformas de GIS;
- Gestão dos dados ao longo do ciclo de vida do ativo.
BIM em Infraestrutura: particularidades e desafios
O BIM aplicado à infraestrutura traz desafios distintos em relação ao setor de edificações. Isso se deve, em grande parte, à natureza dos projetos que são frequentemente lineares e de grande escala, o que detém uma grande quantidade de dados, e que por sua vez, acarreta a necessidade de integrar dados geoespaciais e ambientais com a precisão dos dados dos projetos.
Um dos desafios mais notáveis é a complexidade da modelagem das condições existentes, como o terreno topográfico, camadas geológicas e infraestrutura urbana existente. Em vez de um único elemento, os projetos de infraestrutura abrangem vastas áreas, exigindo a integração de dados geoespaciais, topográficos e de imagens para criar representações fidedignas e funcionais para utilização nas etapas seguintes do fluxo de trabalho. A identificação de inconsistências no contexto macro do projeto e a adaptação das ideias às condições reais do terreno de forma intuitiva é crucial nesse processo.
A simulação de tráfego e mobilidade urbana também se destaca como uma particularidade do BIM para infraestrutura. Ferramentas avançadas permitem simular e avaliar o comportamento de diferentes veículos, pedestres e ciclistas, identificando possíveis impactos na região antes mesmo da execução do projeto. A possibilidade de ajustar variáveis como períodos do dia, níveis de demanda e cenários futuros para analisar congestionamentos em intersecções críticas é um desafio e, ao mesmo tempo, uma solução essencial para o desenvolvimento de cidades inteligentes.
Outra particularidade é a necessidade de realizar simulação de drenagem e análises hidrológicas para garantir a resiliência dos projetos. Diferente de projetos de manufatura e edificações, projetos de infraestrutura precisam modelar grandes bacias hidrográficas, galerias pluviais e redes de drenagem urbana para avaliar o desempenho das novas construções e realizar simulações de inundação.
A interoperabilidade é uma necessidade ainda mais premente. A troca de informações em tempo real e a colaboração eficiente entre diferentes equipes exige a integração perfeita entre diversas soluções. Enquanto o InfraWorks é ideal para a criação de modelos conceituais, o detalhamento técnico pode ser refinado no Civil 3D, e o foco em edificações e modelagem arquitetônica pode ser tratado no Revit. Além disso, a integração com o Recap permite o uso de nuvens de pontos para capturar detalhes extremamente precisos, enriquecendo o modelo com dados reais do ambiente.
Por fim, a integração com plataformas GIS é um requisito fundamental. A conexão nativa com o ArcGIS permite importar e visualizar dados geoespaciais diretamente no modelo 3D, enriquecendo o projeto com informações precisas e contextualizadas, como dados de terreno, uso do solo e infraestrutura existente. Essa sinergia entre o BIM e o GIS (GeoBIM), é indispensável para criar projetos inovadores e alinhados com as realidades geográficas e urbanas.
Esses desafios, que vão da complexidade geoespacial à gestão de dados massivos, reforçam a urgência de avaliar e elevar o nível de maturidade BIM nas empresas e organizações do setor.

Tecnologias que aceleram a Maturidade BIM na Infraestrutura
A evolução da maturidade BIM na infraestrutura é impulsionada pelo uso estratégico de ferramentas adequadas e interoperáveis. Essas soluções são essenciais para lidar com a complexidade e a escala dos projetos, garantindo um fluxo de trabalho integrado e produtivo.
- Autodesk Recap: para alcançar a máxima precisão nos projetos, acompanhamento de obra, as-Built e manutenção de empreendimentos de infraestrutura, o Recap permite a utilização de nuvens de pontos no fluxo de trabalho, enriquecendo o modelo com dados reais do ambiente. Isso é essencial para a captura de detalhes precisos em grandes áreas de projeto.
- Autodesk InfraWorks: é uma ferramenta poderosa que auxilia na criação de modelos conceituais para uma compreensão mais apurada das ideias. Perfeito para a fase inicial de estudos e viabilidades, com destaque para o processamento de nuvem de pontos para a extração de dados, na modelagem de terrenos e na integração de dados geoespaciais. Além disso, permite a simulação de tráfego, mobilidade urbana e análises hidrológicas de forma avançada.
- Autodesk Civil 3D: enquanto o InfraWorks é focado na concepção, o Civil 3D é utilizado para o detalhamento técnico de projetos. Apesar de trabalhar muito bem com uma variedade de tipos de projetos de infraestrutura, o Civil 3D possui recursos avançados de ênfase para projetos de obras lineares, como rodovias, ferrovias, canalização, energia, entre outros. A integração entre as duas soluções garante um fluxo de trabalho preciso e promove o projeto para as etapas de execução e gestão de ativos dos empreendimentos de infraestrutura em geral.
- Autodesk Revit: esta fantástica solução é ideal para a modelagem arquitetônica, estrutural e sistemas prediais, o que já enquadra o seu uso nos projetos de estações de metrô e trens metropolitanos, ou em edificações de saneamento e energia. Contudo, os projetos de infraestrutura possuem diversos elementos como pontes, viadutos, túneis entre as inúmeras estruturas de obras de arte corrente e especial, o que deixa o Revit como ferramenta fundamental para o fluxo de trabalho de projetos de infraestrutura.
- ArcGIS (ESRI): a integração nativa do InfraWorks e Civil 3D com o ArcGIS, uma das plataformas de GIS mais utilizadas, promove o fluxo de importação e visualização dos dados geoespaciais diretamente no modelo 3D. Essa sinergia amplia as possibilidades de análise e planejamento, garantindo que as decisões sejam baseadas em dados confiáveis e atualizados.
- CDE (Common Data Environment) – Ambiente Comum de Dados: embora não seja uma tecnologia de modelagem, o CDE é uma parte fundamental para a maturidade BIM. O Ambiente Comum de Dados garante que todos os dados do projeto estejam centralizados, atualizados e disponíveis ao longo de todo o ciclo de vida do empreendimento, facilitando a colaboração entre as equipes e elevando a qualidade dos resultados.
Essas soluções, quando aplicadas de forma estratégica e integrada, permitem que as organizações avancem de níveis iniciais de maturidade para estágios mais colaborativos, eficientes e sustentáveis.

Benefícios de aumentar a Maturidade BIM na Infraestrutura
Elevar o nível de maturidade BIM no setor de infraestrutura traz impactos diretos e mensuráveis, transformando a maneira como os projetos são planejados e executados.
- Maior previsibilidade: a capacidade de simular cenários complexos permite que os projetistas tomem decisões mais assertivas e minimizem erros antes mesmo da execução da obra.
- Eficiência operacional: a integração de dados geoespaciais e o uso de nuvens de pontos otimizam o desenvolvimento e a análise dos projetos, resultando em maior eficiência. A troca de informações fluida e eficiente entre equipes e ferramentas acelera e otimiza o fluxo de trabalho.
- Sustentabilidade: a metodologia BIM contribui diretamente para a criação de infraestruturas mais sustentáveis, inteligentes e eficientes. As simulações de drenagem e as análises hidrológicas, por exemplo, garantem que os sistemas sejam resilientes e alinhados às necessidades urbanas atuais e futuras.
- Colaboração real: a interoperabilidade perfeita entre soluções como InfraWorks, Civil 3D, Revit e Recap promove a troca de informações em tempo real, garantindo a colaboração eficiente entre todas as equipes envolvidas.
- Gestão de ativos: o BIM se aplica a todo o ciclo de vida do empreendimento, da concepção à operação e manutenção, garantindo que o projeto esteja alinhado com as demandas modernas. A integração com ArcGIS, por exemplo, enriquece o modelo com informações precisas e contextualizadas, ampliando as possibilidades de análise e planejamento.

Leia também: BIM no setor público e a autoavaliação de maturidade
Caminhos para avançar na Jornada BIM
O avanço na maturidade BIM não depende apenas de software, mas de uma estratégia bem estruturada, que combine tecnologia com processos, políticas e pessoas. É uma jornada de transformação que exige passos fundamentais:
- Cultura de Colaboração e Governança Digital: o sucesso da metodologia BIM depende de um ambiente onde a troca de informações seja fluida e eficiente. O uso de um Ambiente Comum de Dados (CDE) é vital para garantir que os dados estejam centralizados, atualizados, rastreáveis e acessíveis, elevando a qualidade dos projetos.
- Capacitação Contínua das Equipes: a interface intuitiva de ferramentas como o InfraWorks torna a experiência prática e acessível, mas a capacitação especializada é fundamental para que as equipes dominem as funcionalidades avançadas e otimizem cada etapa do fluxo de trabalho.
- Definição de Diretrizes e Padrões: a utilização de dados geoespaciais, informações topográficas e imagens de satélite exige a padronização das informações. Definir normas alinhadas com padrões nacionais e internacionais é crucial para a interoperabilidade e a precisão do modelo.
- Integração Estratégica de Tecnologias: a jornada de maturidade avança com a implantação de ferramentas que se complementam, como a integração entre InfraWorks e Civil 3D , que permite o refinamento de modelos conceituais, ou com o ArcGIS, que enriquece o projeto com dados confiáveis.
O BIM como pilar da transformação no setor de infraestrutura
A maturidade BIM no setor de infraestrutura é um reflexo direto do quanto as organizações conseguem alinhar pessoas, processos, políticas e tecnologia em uma jornada evolutiva. Não se trata apenas de “usar BIM”, mas de integrar a metodologia ao DNA da empresa, permitindo que cada decisão de projeto, execução e operação seja orientada por dados confiáveis e colaborativos.
Ao longo deste artigo, destacamos como o BIM, com o suporte de ferramentas como o Autodesk InfraWorks, Civil 3D e Revit está transformando a maneira como profissionais planejam e executam seus projetos de infraestrutura. Sua capacidade de criar modelos 3D integrados, simular cenários e promover a colaboração garante que as empresas entreguem resultados excepcionais.
Com a evolução para níveis mais altos de maturidade, o setor de infraestrutura ganha em eficiência, transparência, sustentabilidade e competitividade. É um processo contínuo que posiciona as empresas para inovar e entregar projetos alinhados às demandas modernas e futuras.



