Nas consultorias, não há como iniciar qualquer projeto sem antes realizar um diagnóstico realista e consistente. Essa etapa inicial faz parte da rotina de qualquer consultor e acredito que é assim, independentemente da área específica de atuação.

O conceito de Diagnóstico

Esse conceito de diagnóstico foi importado da medicina, porque, por definição, trata-se da determinação de uma doença a partir da descrição dos seus sintomas e da realização de diversos exames. Em ambos os casos, na medicina ou na consultoria, as etapas são:

1ª) Levantamento de dados e informações

2ª) Análise dos dados e informações levantadas

3ª) Validação dos dados e informações

4ª) Conclusão e recomendação de uma terapia ou tratamento.

Os primeiros passos do Diagnóstico de Maturidade BIM

Não é somente para BIM, mas caso a doença a ser tratada seja falta de BIM, a prescrição mais imediata seria documentada num BIP (BIM Implementation Plan), um plano de implementação de BIM, que precisará definir e descrever, claramente, porque implementar a metodologia (resposta que, idealmente, deve se alinhar com objetivos estratégicos), definindo também o que deverá ser feito, por quem, quando, onde e como, determinando ainda quanto tempo vai durar e quanto vai custar.

Muito importante, porém é considerar que o diagnóstico é a primeira etapa de um processo de implementação BIM e, portanto, é quando tanto os consultores quanto os demais envolvidos deverão realizar genuínos esforços de conexão, para garantir que os dados e informações reais e relevantes sejam, de fato, levantados, registrados e considerados.

Os desafios de realizar o Diagnóstico de Maturidade BIM

Há que se considerar ainda que na ampla maioria dos casos, um projeto de implementação BIM é realizado em paralelo com as demais atividades rotineiras das empresas e organizações, ou seja, no fim do dia, significa um real aumento da demanda de trabalho das equipes, que atualmente, quase nunca é equilibrada, ao contrário, é muito frequente que encontremos profissionais assoberbados e às beiras de sofrerem um burnout.

Consultores precisarão sempre ser intencionais nos esforços de conexão e de construção de relacionamentos e ainda serem persistentes e flexíveis, porque afinal, todos estamos sujeitos a termos dias ruins, então, mesmo sob a pressão dos cronogramas, com frequência é mais sábio e melhor deixar para outro dia aquela entrevista com alguém que se perceba, que não está muito bem.

Embora óbvio, convém ressaltar que um dos principais entregáveis de um diagnóstico é a clara e alinhada definição dos motivadores e principais expectativas da organização que está interessada em implementar o BIM.

Também é o momento de verificação e confirmação de que os objetivos específicos da adoção do BIM estejam, de fato, alinhados aos objetivos estratégicos e ao alcance desta visão futura da organização.

A importância de um Diagnóstico de Maturidade BIM

Mas, afinal, por que é tão importante a realização de um diagnóstico de maturidade BIM?

Voltemos à metáfora do diagnóstico na medicina. Da mesma forma que é impossível prescrever um tratamento adequado sem a realização de um diagnóstico preciso e confirmado, também será muito difícil definir um plano de implementação BIM adequado, sem antes realizar um diagnóstico do atual nível de maturidade digital de uma empresa ou organização.

E ainda, um diagnóstico bem estruturado e validado possibilita a comparação com concorrentes (benchmarking), fornece um meio estruturado para a avaliação da evolução e do progresso ao longo do tempo e ainda contribui para o gerenciamento dos riscos, que inexoravelmente acompanham todo e qualquer projeto de inovação ou processo de mudança.

Os principais desafios para a construção de um diagnóstico são a limitação da dedicação dos envolvidos, os possíveis desalinhamentos e a presunção do entendimento.

Superando os desafios comuns

Sobre a dedicação, como já comentado, sempre enfrentaremos a concorrência com outras atividades, com outros projetos e com as responsabilidades que fazem parte das rotinas dos clientes.

Não é incomum que “alguns” façam a contratação da consultoria para a implementação do BIM, mas que sejam “outros” aqueles afetados e que serão os responsáveis pela implementação propriamente dita. Esta é uma das causas mais comuns dos desalinhamentos.

Quanto ao entendimento, nunca convém presumir que os envolvidos e afetados já entenderam adequadamente a importância do diagnóstico e o esforço que precisará ser feito para sua realização, então, é melhor cuidar da comunicação e promover esse alinhamento, o mais cedo possível, sem medo de falar mesmo aquilo que se presume ser óbvio.

E quais são os recursos disponíveis para a construção de um diagnóstico de maturidade BIM?

Os mais clássicos e tradicionais são os formulários de pesquisas e as entrevistas. Sempre poderão e deverão ser utilizados, porém, sobre os formulários, faz-se imprescindível um especial cuidado na formulação das perguntas e no dimensionamento do tempo necessário para as respostas.

Quanto às entrevistas, além da escolha das pessoas a serem entrevistadas, representantes das principais áreas afetadas, é altamente recomendável que se prepare antes um detalhado e bem pensado roteiro, que deve ser específico e customizado, para cada diferente área ou pessoa, considerando sua posição na hierarquia da empresa.

Bots e análise documental

Outro recurso que também pode ser usado é a criação de um robô, um bot, específico para realização de uma primeira fase de entrevistas virtuais. Embora ainda incomum, em tempos de popularização do uso da inteligência artificial, pode ser um recurso a ser tentado para alguns clientes específicos.

A análise de documentos, como o mapeamento de processos, entregáveis de projetos já realizados, descrição de cargos e responsabilidades especialmente daqueles mais diretamente envolvidos ou afetados por uma implementação BIM e modelos atuais de contratos também é um recurso bastante útil para a realização de um diagnóstico de maturidade BIM. Lembrando que convém sempre verificar qual o nível de atualização e aderência dos mapeamentos de processos aos trabalhos realmente executados.

Histórico de projetos

Quanto aos entregáveis de projetos já realizados, interessam tanto os bons exemplos quantos os ruins, para entender quais são as principais oportunidades e as fragilidades mais comuns. Sobre os atuais modelos de contrato, sempre é preciso considerar que a indústria da construção se caracteriza pela utilização de contratos muito adversariais e que é justamente neste combate do nós-contra-eles que reside um grande potencial de ganhos reais e significativos que podem ser viabilizados com a migração para processos BIM.

Análise SWOT

Em alguns casos, para complementar o esforço do diagnóstico também pode-se construir uma Matriz SWOT e então explorar não apenas a identificação das forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, mas especialmente as análises cruzadas, como por exemplo: “Forças + Oportunidades”, ou como utilizar forças para ganhar ou consolidar uma vantagem competitiva no ambiente (externo) de negócios (oportunidades) e assim por diante.

Modelos de avaliação para o diagnóstico de Maturidade BIM

Por fim, ainda sobre as possíveis ferramentas para a realização de diagnósticos, temos as publicações do notável Bilal Succar, que se dedica a este tema já há muitos anos e é a principal referência do assunto. Ele criou diferentes métricas para a avaliação da maturidade BIM de países, ou seja, economias vistas como um todo; para empresas (ou equipes de projeto) e para pessoas (ou profissionais), individualmente.

A matriz de avaliação de Maturidade BIM de Bilal Succar

Para avaliar empresas, ou equipes de trabalho, Succar desenvolveu uma matriz de avaliação da maturidade BIM, que está estruturada em 8 dimensões ou grandezas:

• Estrutura & Processos;
• Infraestrutura Tecnológica;
• Pessoas & Equipes;
• Capacitação;
• Estratégia & Liderança;
• Políticas & Regulamentação;
• Informações e Modelo de Negócio;
• 5 níveis: inicial (ou ad-hoc), definido, gerenciado, integrado e otimizado.

Matriz de maturidade BIM pela FF Solutions

Nós na FF Solutions revisamos e customizamos essa matriz do Succar, e incluímos duas novas dimensões: Recursos Financeiros e ISO-19650 e ainda, incluímos mais um nível que é o “inexistente”. Costumamos indicar que as empresas e organizações realizem elas mesmas essa autoavaliação, indicando não apenas qual é seu atual nível de maturidade, mas também definindo qual é o nível almejado, para cada uma das dimensões.

Realizamos então uma reunião em que a empresa apresenta e defende o preenchimento que fez da matriz de autoavaliação da sua maturidade BIM, quando, então, temos a oportunidade de realizarmos uma análise a 4 mãos, que pode conduzir à “calibragem” das pontuações em algumas das dimensões.

Observações do autor

Pessoalmente prefiro deixar a maior parte das entrevistas para ser realizada numa fase final e mais confirmatória de informações e dados já levantados através de outros recursos. Também convém sempre considerar a definição de perguntas cruzadas, para verificar e confirmar a veracidade das informações recebidas.

Não se engane e considere que muitas vezes as maiores verdades para a construção de um diagnóstico preciso surgem na pausa do café ou até mesmo num happy hour. É preciso estar atento.