A metodologia apoia os gestores e concessionárias a alcançar a universalização do acesso à água e coleta de esgotos.
O planejamento dos sistemas de saneamento básico está entre os maiores desafios da engenharia de infraestrutura, onde se exige conhecimento, precisão técnica, previsibilidade financeira e eficiência na execução.
Redes de abastecimento de água e de esgotamento sanitário envolvem grandes extensões territoriais, diferentes condições geográficas e geotécnicas, múltiplos cenários de operação e, sobretudo, a responsabilidade de garantir serviços essenciais à população.
Com as metas para universalização do abastecimento de água e esgotamento sanitário, estabelecido pelo Marco Legal do Saneamento (Lei nº 14.026/2020) se aproximando (2033), cresce a pressão sobre as concessionárias para alcançar maior precisão técnica, previsibilidade financeira e visão estratégica. Nesse contexto, métodos convencionais de projeto, baseados apenas em desenhos 2D e planilhas de dimensionamento, já não respondem a essa necessidade.
Nesse cenário, o BIM (Building Information Modeling) se torna um aliado estratégico, atuando como integrador, reunindo dados técnicos, operacionais e financeiros em um único ambiente.
Modelagem de sistemas de saneamento básico
O uso do BIM transforma a forma como as redes de água e esgoto são projetadas. Elas deixam de ser apenas linhas em planta e passam a ser representadas por modelos digitais paramétricos, com informações técnicas, geométricas e técnicas que dão suporte a todo o ciclo de vida do ativo.

Entre os principais benefícios da modelagem 3D, destaco:
- Precisão geométrica: modelos ricos em informação atributadas evitam erros e retrabalhos, antecipando problemas de projeto;
- Compatibilização entre disciplinas: identificação antecipada de interferências a partir do cruzamento de modelos de diferentes disciplinas (civil, elétrica, hidráulica, mecânica e automação) ou infraestruturas existentes (cabeamento elétrico e comunicação, tubulação de gás);
- Bibliotecas padronizadas: objetos do sistema podem ser parametrizados com dados construtivos, geoespaciais e cadastrais, facilitando análises das condições futuras e ampliando as possibilidades de integrações com outros sistemas corporativos;
- Escalabilidade: o modelo pode ser usado desde estudo preliminares até o “As Built”, servindo de base para a gestão do ativo.
Assim, gestores podem visualizar e testar cenários antes mesmo da execução e garantir que o projeto esteja alinhado com as necessidades operacionais e regulatórias.
Simulações hidráulicas para tomada de decisão
Ao integrar BIM às ferramentas de simulação hidráulica como o Autodesk InfoWorks WS Pro e o InfoWorks ICM, é possível criar modelos digitais que simulam o comportamento das redes.
- InfoWorks WS Pro: indicado para modelagem e análise de redes de distribuição de água. Gera simulações hidráulicas que permitem prever pressões na rede, golpes de aríete, falhas na operação e redução de perdas. (Fonte: adaptado de https://www.autodesk.com/pt/products/infoworks-ws-pro/overview?us_oa=dotcom-us&us_si=3d77c795-467c-4e00-a69d-7cd094e8f819&us_st=Infoworks);
- InfoWorks ICM: indicado para redes de esgoto e drenagem pluvial. Permite realizar simulações para prever inundações, criar cenários climáticos e planejar obras de mitigação de riscos em bacias urbanas. (Fonte: adaptado de https://www.autodesk.com/pt/products/infoworks-icm/overview?us_oa=dotcom-us&us_si=6948bd69-0950-4aff-87a0-97fef8e4cad9&us_st=Infoworks%20sewer).

Essas análises permitem tomar decisões embasadas em dados, reduzindo riscos e garantindo eficiência no atendimento à população.
Orçamentação com BIM 5D
Outra contribuição significativa do BIM está na gestão dos custos. Com as informações de quantitativos, custo e prazos vinculados ao modelo 3D é possível realizar a extração automática de quantitativos e acompanhamento do orçamento ao longo do ciclo de vida do ativo.
No planejamento de sistemas de saneamento básico para uma determinada comunidade, o uso do BIM 5D permite gerar orçamentos mais precisos. Isso ocorre porque os quantitativos, extraídos automaticamente de modelos 3D paramétricos, podem ser vinculados às bases de preços atualizadas, como o SINAPI (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil) ou bancos internos das concessionárias.
À partir dessa integração, é possível simular diferentes cenários tanto na fase CAPEX (definição do custo de implantação da rede) quanto na fase OPEX (considerando despesas recorrentes de operação, como perdas, manutenção preventiva e reparos emergenciais).
Benefícios da orçamentação 5D para o setor:
- Extrair quantitativos de tubulações, conexões e equipamentos diretamente do modelo;
- Vincular dados de custos e prazos para estimativas confiáveis;
- Simular cenários de investimento (CAPEX) e operação (OPEX);
- Integrar o modelo ao cronograma 4D, antecipando gargalos e riscos.
Como resultado, a previsão orçamentária facilitada com BIM reduz incertezas, aumenta a transparência junto a reguladores e investidores e fortalece a governança dos projetos de saneamento.
BIM como instrumento estratégico para a transformação digital do saneamento
O uso do BIM no planejamento de sistemas de saneamento básico representa uma mudança de paradigma. A integração entre modelagem, simulação e gestão orçamentária traz previsibilidade, reduz riscos e apoia o cumprimento das metas de universalização do abastecimento de água e esgotamento sanitário.
Ao adotar o BIM, gestores passam a obter maior clareza sobre custos, prazos e riscos, além de embasar decisões com informações confiáveis. Já as concessionarias passam a obter maior eficiência, transparência e conformidade regulatória.
No entanto, todos esses benefícios só se sustentam quando acompanhados de processos robustos de governança da informação. O BIM não deve ser visto apenas como ferramenta de projeto, mas como um instrumento estratégico de gestão e planejamento, capaz de integrar diferentes áreas e suportar a transformação digital do setor.