Artigo escrito pelos especialistas da FF Solutions Dagoberto Neto e Cínthia Santos
Projetos de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC) caracterizam-se por sua elevada complexidade técnica, multiplicidade de agentes envolvidos e intensa produção de documentos. Em um cenário tradicional, a circulação de informações ocorre de maneira descentralizada, por meio de comunicações informais, arquivos físicos e versões não controladas de documentos. Esse ambiente fragmentado gera inconsistências, retrabalhos e atrasos que impactam diretamente os custos e os prazos contratados.
Assim como uma orquestra depende de uma partitura única e coerente para garantir a harmonia, um empreendimento necessita de um fluxo de informação preciso e sincronizado. Sem isso, surgem efeitos amplamente conhecidos:
- Retrabalho e elevação de custos: a ausência de uma “fonte única da verdade” resulta em versões conflitantes de documentos, gerando erros que só se tornam evidentes na etapa construtiva — quando sua correção é significativamente mais onerosa.
- Atrasos no cronograma: a dificuldade em localizar e validar a versão correta de plantas, memoriais e registros cria gargalos que comprometem a cadeia decisória.
- Baixa transparência e lentidão na tomada de decisão: informações distribuídas em e-mails, servidores locais e documentos físicos inviabilizam uma visão consolidada do progresso, dos riscos e das pendências.
Em contraponto, observamos uma transição para um modelo de gestão mais dinâmico, apoiado em monitoramento contínuo, comunicação integrada e replanejamento. Esse modelo só é possível mediante processos robustos de gestão da informação e suporte tecnológico adequado.
Fundamentos da gestão da informação: conceitos e tecnologias-chave
A Gestão da Informação estabelece as bases para a organização, padronização e governança dos dados ao longo do ciclo de vida do projeto. Por meio de processos definidos e critérios de qualidade, garante-se a consistência, a rastreabilidade e a confiabilidade das informações, reduzindo perdas e retrabalho. Esse alinhamento entre pessoas, processos e tecnologias permite que os dados evoluam de forma estruturada, apoiando decisões técnicas e estratégicas com maior segurança e previsibilidade.
Definição e estrutura da gestão da informação
A Gestão da Informação compreende processos, padrões e sistemas destinados a assegurar que o dado certo chegue à pessoa certa, no momento certo, com integridade e contexto suficientes para orientar ações. Para isso, é essencial diferenciar três níveis de maturidade das informações:
- Dado: elemento bruto, sem contexto (ex.: dimensão – “30 cm x 60 cm”).
- Informação: dado contextualizado e aplicável (ex.: “viga 30 x 60 cm entre os pilares A-13 e B-14, 3º pavimento”).
- Conhecimento: capacidade de utilizar informações para decisões técnicas, combinando experiência, normas e análises.
A gestão eficaz busca transformar dados dispersos em informação estruturada, que por sua vez sustenta decisões fundamentadas.
Tecnologias: BIM e CDE
A digitalização da cadeia da construção apoia-se em dois pilares tecnológicos:
Ambiente Comum de Dados (Common Data Environment – CDE)
É a plataforma centralizada para armazenamento, versionamento, comunicação e colaboração do projeto. O CDE estabelece um repositório único, padronizado e auditável, garantindo controle de versões, rastreabilidade e segurança da informação.
Leia o artigo completo sobre: O que é um Ambiente Comum de Dados (CDE)

Fonte: FF Solutions
BIM (Building Information Modeling)
Mais que modelagem tridimensional, o BIM representa um banco de dados integrado, no qual cada elemento possui atributos técnicos, quantitativos e executivos. Quando integrado ao CDE, o BIM se torna o núcleo informacional do projeto, viabilizando análises avançadas, coordenação multidisciplinar e simulações.
A Gestão da informação aplicada ao ciclo de vida do empreendimento
A adoção de um ecossistema digital transforma cada fase do projeto, promovendo a migração de processos reativos para proativos.
Planejamento e desenvolvimento de projeto
Ferramentas de colaboração e coordenação possibilitam o compartilhamento controlado de modelos, com versionamento automático e integração disciplinar, a detecção automatizada de interferências (clash detection – reduzindo significativamente riscos e retrabalhos) e a visualização da evolução dos modelos ao longo do desenvolvimento.
Exemplos práticos incluem módulos como Design Collaboration e Model Coordination, ferramentas que compõe a Autodesk Construction Cloud (ACC), e suportam a análise integrada entre arquitetura, estruturas e instalações.
Execução no canteiro de obras
A etapa de obra se beneficia diretamente da disponibilidade da informação atualizada, permitindo o acesso em campo a modelos e documentos atualizados, via tablets ou dispositivos móveis, facilitando a análise 4D (3D + tempo) para visualização do sequenciamento construtivo, organizando registros e a gestão de não conformidades, pendências, inspeções e evidências fotográficas e possibilitando a comunicação imediata entre campo e escritório.
Plataformas como o módulo Build da ACC conectam a execução física ao modelo digital, reduzindo a latência das informações.

Fonte: Autodesk
Entrega e operação
O valor da gestão da informação se maximiza quando o empreendimento atinge a fase de operação, pois quando comparamos a entrega tradicional (documentação fragmentada, em papel e frequentemente desatualizada) frente a entrega facilitada por meio do uso de tecnologias (disponibilização de um gêmeo digital – digital twin, com informações “as-built” integradas, prontas para operação, manutenção e planejamento de reformas e reparos) percebemos o quão essencial é o processo de documentação, garantindo a integração de todo ciclo de vida da edificação e ampliando o retorno sobre o investimento em modelagem e gestão.
A construção orientada por dados
A transição para processos digitais não se limita à adoção de tecnologias. Trata-se de uma transformação cultural que envolve novas práticas, responsabilidades e formas de colaboração.
A evolução do setor AEC aponta para um ambiente onde decisões baseadas em dados, plataformas colaborativas e modelos digitais se tornam indispensáveis. A gestão da informação representa o eixo que sustenta essa transformação, permitindo que equipes projetem, construam e operem edificações de forma integrada, precisa e eficiente.
Para profissionais ingressando no setor, o domínio dessas metodologias deixa de ser um diferencial e passa a ser uma competência essencial. A era da construção orientada por papel está ficando para trás; a era da construção orientada por dados já começou — e a gestão da informação é o instrumento que viabiliza essa mudança estrutural.
Quer fazer parte desse movimento? Conheça a FF Solutions e entenda como nossos pilares de Tecnologia, Consultoria e Educação podem ajudar a sua empresa a ingressar na jornada de transformação digital.



