Transformação Digital no Saneamento Básico

A transformação digital no Saneamento está ganhando espaço e se mostrando crucial para vencer os desafios da escassez de água, mas, o que é essa transformação?

A transformação digital no Saneamento Básico está cada vez ganhando mais espaço e se mostrando fundamental para vencer os desafios do setor, mas afinal, o que é essa transformação? 

Podemos considerar o termo Transformação Digital como sendo um processo contínuo que implementa mudança de mentalidade digital, com a adoção de novas tecnologias e incentivo a comportamentos inovadores na maneira de se trabalhar. 

A transformação digital tem como objetivo principal atender as mudanças de comportamento e de demandas do mercado como um todo, que acontecem cada vez mais aceleradas, e nesse sentido, a implementação da transformação digital pode tornar uma empresa mais ágil e capaz de se adaptar às instabilidades de mercado

  1. Maturidade digital das empresas no Brasil
  2. 4 ações que impulsionam a Transformação Digital no Saneamento Básico 
  3. Novo Marco Legal do Saneamento
  4. BIM e Transformação Digital no Saneamento Básico 
  5. Desafios da Transformação Digital no Saneamento 

Maturidade digital das empresas no Brasil

Apresenta-se aqui um resumo de um estudo realizado pela McKinsey & Company em 2019, com 124 empresas de grande e médio porte em diversos setores do Brasil.  

O estudo trouxe resultados sobre o nível de maturidade digital das empresas no país. Os setores mais bem posicionados no estudo são os de Serviços Financeiros, Varejo e Telecomunicações e Tecnologia, muito provavelmente por conta de serem mais maduros e consequentemente mais competitivos, tendo referências de boas práticas no que tange a transformação digital.  

Figura 1 – Resultado da pesquisa sobre níveis de maturidade digital das empresas no Brasil. Fonte: McKinsey & Company, 2019. 

Observa-se ainda que nesse mesmo estudo o setor de transporte e infraestrutura encontra-se abaixo da média de maturidade digital das empresas pesquisadas no Brasil, portanto o esforço para alavancar o setor de infraestrutura é superior aos demais setores mais avançados digitalmente.  

Em contrapartida ao estudo, o levantamento realizado pela ABDIB e EY (Building a Better Working World), publicado em 2021 (Barômetro da Infraestrutura Brasileira), aponta que a transformação digital do setor de infraestrutura está se materializando, apresentando de forma suscinta alguns avanços e iniciativas nos setores de rodovias e saneamento básico

Trazendo essa visão geral do setor de infraestrutura, no qual saneamento básico está inserido, percebe-se que ele está caminhando, mesmo que lentamente, para não ficar para trás nessa busca por transformação digital.  

4 ações que impulsionam a Transformação Digital no Saneamento Básico 

Novo Marco Legal do Saneamento 

A aprovação do novo Marco Legal do Saneamento (ver Lei Nº 14.026, de 15 de julho de 2020), há dois anos, estabeleceu diversas metas a serem cumpridas até 2030, com o objetivo de melhorar a prestação dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário. A principal meta estabelecida é a universalização dos serviços, atendendo 99% da população com abastecimento de água e 90% da população com esgotamento sanitário.  

A demanda para atingir as metas previstas faz com que o setor atraia atenção para desenvolver projetos mais eficientes, tendenciando a utilização de ferramentas e tecnologias digitais para aumentar a eficiência dos serviços de abastecimento de água e esgoto.  

Segundo dados mais recentes do Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (SNIS), ano base 2020/2021, podemos ter uma visão geral do índice de atendimento atual dos serviços de saneamento, que ainda é considerado muito aquém às metas estabelecidas. 

Figura 2 – Definição de saneamento básico de acordo com a lei 11.445/2007, atualizada pela Lei 14.206/2020 e índice de atendimento em relação aos serviços de saneamento básico. Fonte: adaptado do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, SNIS 2021. 

Índice de atendimento % da população total 

Redes Públicas de Abastecimento de Água 84,41% 

Redes de Esgotamento Sanitário 55% 

Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos Sólidos | Cobertura de coleta domiciliar urbana 98,7% 

Drenagem e Manejo das Águas Pluviais 84,4% 

Aumento da concorrência entre as empresas do setor  

A abertura para empresas privadas participarem de leilões de concessões amplia a concorrência e motiva a busca por eficiência e novas tecnologias. Essa abertura também atrai investimentos para a área devido às exigências de comprovação de capacidade econômico-financeira (ver Decreto nº 10.710, de 31 de maio de 2021), permanecendo apenas empresas que tem capacidade de investir para o atingimento das metas previstas no novo marco regulatório. 

Investimento no setor de Saneamento Básico 

O levantamento do Barômetro da Infraestrutura Brasileira (2021) aponta o saneamento básico como sendo um do setores da infraestrutura com maior chance de receber investimentos nos próximos três anos, reflexo da aprovação do novo marco e da possibilidade de expansão do capital privado. 

Segundo informações do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) os investimentos para o setor nos últimos dois anos chegam em cerca de R$ 72,2 bilhões. Em contrapartida, a ABCON SINDCON estima que o volume necessário para a universalização do setor até 2033 deve chegar na ordem de R$ 893 bilhões.  

Figura 3 – Investimentos no setor para universalização dos serviços de saneamento. Fonte: ABCON SINDCON, 2022. 

Soluções Inteligentes  

Percebe-se que, a busca por soluções inteligentes, que minimizem problemas como a perda de água em toda cadeia produtiva e otimizem o sistema de saneamento básico, estão sendo cada vez mais estudas pelas empresas de saneamento.  

Nesse contexto, trago alguns índices estimados de perda de água, divididos pelas macrorregiões do Brasil. É notório, que essas perdas geram impactos negativos para empresas prestadoras do serviço e para o consumidor final. 

Figura 4 – Estimativas de perdas de água por macrorregião do Brasil. Fonte: Ministério do Desenvolvimento Regional, 2021. 

Para solucionar este problema, existem soluções que possibilitam o acompanhamento em tempo real de todo o ciclo de vida dos processos de tratamento e abastecimento de água de uma determinada população.  

A combinação de Internet das coisas (IoT) com dados baseados em Inteligência Artificial (AI) são exemplos de soluções inteligentes que garantem maior eficiência na gestão dos sistemas, maior previsibilidade de planejamento, gestão eficiente da etapa de manutenção do ativo, além da prestação de serviços com maior qualidade e menos custos. 

BIM e Transformação Digital no Saneamento Básico 

O BIM (Building Information Modeling) vem como um importante aliado para impulsionar a transformação digital no setor, motivado pela publicação do Decreto Nº 10.306, de 2 de abril de 2020, e pelo crescente debate a respeito da modelagem da construção e seu valor agregado nas obras públicas e privadas, além de ações relacionadas a normativas BIM como as publicações da ABNT NBR ISO 19650 e a lei de licitações (ver Lei Nº 14.133, de 1º de abril de 2021). 

Figura 5 – Roadmap Estratégia BIM BR. Fonte: FF Solutions. 

Em pesquisa apresentada pela revista McGraw Hill, The Business Value of BIM for Construction in Major Global Markets (ver https://icn.nl/pdf/bim_construction.pdf), em 2014, as empresas que implementaram o BIM reconhecem que obtiveram resultados positivos, conforme segue:  

  • 41% Redução de erros e omissões, 
  • 35% Melhor colaboração,  
  • 32% Melhor imagem organizacional,  
  • 31% Menos retrabalho,  
  • 23% Redução custo da construção 
  • 21% Melhor controle de custos 
  • 19% Redução nos prazos dos projetos  

Não há dúvida que a mudança para a metodologia BIM possibilita maior qualidade técnica, colaboração, melhor controle financeiro e, por consequência, maior segurança jurídica. 

Figura 6 – Benefícios da transformação digital. Fonte: FF Solutions 

Desafios da Transformação Digital no Saneamento 

Para a implementação da transformação digital no setor, destaco os seguintes desafios: 

  • Urbanização acelerada 
  • Mudanças climáticas que podem contribuir para escassez de água – as inovações são essenciais para minimizar os impactos dessa problemática) 
  • Mudança cultural – as pessoas precisam estar capacitadas e engajadas para o sucesso da transformação digital 
  • Readequação dos processos – responsável por melhorias produtivas no fluxo de trabalho dos colaboradores para gerar maior valor digital às organizações 
  • Melhorar a integração entre sistemas inteligentes e sistemas multidisciplinares, como SCADA, IoT, Inteligência Artificial, Sistema de Georreferenciamento (GIS), BIM entre outros 

A transformação digital é a mudança necessária para que empresas consigam se manter e competir no mundo atual. Estas mudanças estão relacionadas não somente à mudança de tecnologia, mas também na alteração do modo de pensar de todos os envolvidos na cadeia produtiva do setor. Além disso, é necessário estabelecer políticas públicas que permitam e promovam tal evolução, de forma ordenada, com institucionalização de normativas que possibilitem que os multiplicadores de conhecimento e a inovação contribuam com melhoria de nossas cidades e consequentemente nos serviços de água e esgoto. 

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